[BLOG] Série Especial “Entendendo os Ataques Cibernéticos”
Introdução
Os arquivos de atalho do Windows, os conhecidos .LNK, são ferramentas extremamente úteis no dia a dia. Eles aceleram o acesso a programas, pastas e documentos sem exigir que o usuário navegue por múltiplos diretórios. Porém, por trás dessa conveniência, existe um risco crescente: atalhos maliciosos usados para comprometer sistemas e iniciar cadeias de ataque altamente sofisticadas. Nesta edição da nossa Série Especial: Ataques Cibernéticos, vamos entender como esses ataques funcionam, por que continuam tão eficazes e como se proteger
Por que arquivos .LNK se tornaram armas cibernéticas?
Os atalhos são tratados pelo Windows como arquivos inofensivos. Eles não são executáveis tradicionais, não geram alertas de segurança e passam despercebidos pela maior parte das soluções de segurança quando usados de forma criativa por atacantes. Muitas campanhas de phishing modernas exploram esses arquivos para entregar malware sem depender de scripts bloqueados por políticas de e-mail [6][7].
Essa combinação de confiança + invisibilidade torna os arquivos .LNK vetores ideais para:
- Execução indireta de comandos ocultos (PowerShell, CMD, MSHTA, rundll32, wscript…)
- Inicialização de payloads sem a presença de um .EXE
- Bypass de políticas de execução e restrições de scripts [3]
- Ataques fileless associados a malware modular e campanhas de phishing avançadas [7]
É uma típica técnica de Living off the Land, quando o invasor usa componentes legítimos do próprio sistema operacional contra ele [7].
Como funcionam os ataques usando Shell Link
As vulnerabilidades de Shell Link exploram a forma como o Windows processa e renderiza ícones de atalhos. Em vários casos, apenas visualizar o arquivo .LNK em um diretório já é suficiente para disparar a execução de código, sem que o usuário abra o arquivo [2].
Um dos episódios mais conhecidos foi o Stuxnet, que explorou a CVE-2010-2568 para infectar sistemas via pendrives, apenas com a exibição do ícone do atalho [2].
Mais recentemente, a vulnerabilidade ZDI-CAN-25373 ganhou destaque ao permitir que comandos maliciosos fossem escondidos dentro de arquivos .LNK sem aparecer nas propriedades exibidas pelo Explorer, tornando a detecção manual praticamente impossível [1].
Os principais vetores de entrega
1. Mídias removíveis (USB): Método clássico usado inclusive em incidentes históricos como Stuxnet [2].
2. Compartilhamentos de rede: Atacantes podem espalhar atalhos maliciosos por pastas acessadas por vários usuários, prática comum em campanhas de movimento lateral [3].
3. Campanhas de phishing: Arquivos ZIP contendo .LNK substituem executáveis bloqueados por políticas de e-mail, técnica usada por malware como Qakbot e Emotet [6].
4. Ameaças internas: Usuários mal-intencionados podem criar atalhos aparentemente legítimos para executar scripts maliciosos, conforme documentado em relatórios de ataques internos [5].
Como identificar um .LNK malicioso
Indicadores comuns incluem:
- Target executando PowerShell com parâmetros codificados (técnica mapeada pelo MITRE ATT&CK em T1204.002) [3]
- Uso de
cmd.exe /ccom chamadas encadeadas - Alvos em diretórios suspeitos (ex.:
%APPDATA%,%TEMP%) - Ícones imitando aplicativos legítimos (engenharia social) [5]
- Argumentos longos ou ofuscados
- Criação após execução de macros, phishing ou instaladores duvidosos [6]
Sistemas SIEM, XDR e ferramentas de Threat Intelligence são essenciais para correlacionar esses sinais [6].
Como se defender: recomendações práticas
Proteger-se contra ataques baseados em arquivos .LNK exige uma abordagem em múltiplas camadas. Como esses atalhos fazem parte do funcionamento natural do Windows e são considerados benignos pela maioria dos sistemas, a defesa deve combinar controle de acesso, telemetria avançada, inspeção de conteúdo e educação do usuário. Abaixo estão as medidas mais importantes, agora apresentadas de forma ampliada e mais estratégica.
1. Mantenha o Windows e o Shell atualizado (patching contínuo)
Vulnerabilidades históricas, como a CVE-2010-2568 explorada pelo Stuxnet, demonstram que falhas no processamento do ícone do .LNK podem permitir execução de código apenas ao visualizar um diretório. Manter o sistema atualizado reduz drasticamente a superfície de ataque. Isso inclui: aplicar patches de segurança do Explorer, aplicar correções de parsing de ícones, fazer ajustes na biblioteca shell32.dll, e reallizar Atualizações de políticas de restrição do Windows
2. Mantenha controle estrito sobre execução e criação de .LNK
A maioria das organizações não precisa permitir a criação de atalhos fora de contextos específicos. Portanto, use WDAC, AppLocker ou SRP para:
- Bloquear execução de .LNK em mídias removíveis
- Restringir execução de atalhos a diretórios confiáveis
- Impedir criação de .LNK por processos não autorizados
- Essa camada reduz drasticamente o uso de .LNK em campanhas fileless e ataques de phishing.
E aplique políticas adicionais tais como: negar execução de .LNK no %APPDATA%, %TEMP%, %PUBLIC%, e impedir que usuários comuns criem ou alterem atalhos no startup
Essa camada reduz drasticamente o uso de .LNK em campanhas fileless e ataques de phishing.
3. Realize monitoramento contínuo baseado em comportamento.
Devido à simplicidade estrutural dos .LNK, assinaturas tradicionais de antivírus raramente detectam abuso. Assim, monitoramento comportamental é essencial. Eventos importantes a monitorar:
- Criação repentina de múltiplos .LNK no sistema
- Execução de PowerShell, cmd.exe, mshta.exe ou wscript.exe originados de um .LNK
- Atalhos contendo argumentos extensos, codificados ou ofuscados
- Execução do Explorer carregando atalhos em diretórios não usuais
- .LNK surgindo logo após abertura de ZIPs ou anexos de e-mail
As tecnologias críticas recomendadas para esta camada são: uso de SIEMs com correlação automática, uso de XDR/EDR com interceptação de processo, e uso de Sandbox para análise dinâmica.
4. Faça inspeção profunda do conteúdo do .LNK (Static + Deep Analysis)
Atalhos maliciosos podem conter campos ocultos e alvos mascarados. Ferramentas de inspeção dedicada conseguem revelar:
- Caminho real do alvo (TargetPath).
- Argumentos embutidos (Arguments).
- Comandos ofuscados.
- Cadeias de execução encadeadas via
cmd /c. - Objetos COM invocados pelo atalho
As ferramentas e técnicas recomendadas para essa camada são:
- Regras YARA YARA (Yet Another Recursive Acronym) focadas em padrões de PowerShell.
- Sigma Rules para correlação em logs de execução.
- Ferramentas forenses como
LnkParse. - Análise de hash e metadados em Threat Intel feeds.
5. Reforce as políticas de dispositivos removíveis
A disseminação via USB continua sendo relevante, sobretudo em ambientes industriais (OT/SCADA), laboratórios e universidades. Recomendações:
- Bloqueio completo de mídias removíveis, onde possível.
- Montagem de USB apenas como leitura.
- Isolamento de máquinas que necessitam portar mídia física.
- Varrimento automático de conteúdo recém-conectado.
6. Mantenha capacitação contínua de usuários e equipes de TI
Usuários são frequentemente enganados por atalhos com ícones falsos ou nomes sugestivos (ex.: “Documento Importante.pdf.lnk”). Mesmo equipes técnicas podem subestimar o risco. Prepare seus usuários para: nunca abrir atalhos vindos por e-mail ou mensageria, sempre Suspeitar de arquivos ZIP com atalhos internos, reconhecer extensões duplas e diferenciar ícones legítimos de imitações.
E as equipes de TI devem estar preparadas para: monitorar itens de inicialização que usam .LNK, Detectar criação anômala de atalhos, e Verificar argumentos suspeitos em propriedades de .LNK.
Como a [CYLO] pode ajudar
A CYLO Cyber Defense, através da plataforma Cortex XSIAM, fortalece a detecção e resposta contra Shell Links maliciosos com tecnologia de automação e inteligência cibernética avançada. Os seguintes aspectos são tratados pelo [CYLO]:
1. Análise comportamental avançada de .LNK
O XSIAM correlaciona automaticamente: a criação de atalhos com a execução via Explorer e com processos subsequentes (PowerShell, scripts, DLLs). Essa abordagem comportamental é essencial para detectar ataques fileless documentados em pesquisas recentes [7].
2. Inteligência de ameaças integrada
Correlação em tempo real com IoCs globais, incluindo famílias conhecidas que abusam de .LNK (Qakbot, Emotet, FIN7) [6].
3. Resposta automatizada
Os playbooks podem bloquear a execução do arquivo, remover .LNK maliciosos da rede, isolar endpoints com sinais de comprometimento
4. Telemetria unificada
Visualização completa da cadeia de ataque envolvendo .LNK: Origem, Usuário que executou, quais processos disparados e uma possível movimentação lateral [3][6].
5. Governança e conformidade
Auxilia a manter políticas de execução restritas e auditáveis, em linha com frameworks MITRE e CERT.br [3][5].
Conclusão
Atalhos .LNK evoluíram de simples ferramentas de conveniência para armas altamente eficazes em ataques modernos. Entender seu funcionamento e implementar proteções adequadas é essencial.
Com análise comportamental, automação e Threat Intelligence, o Cortex XSIAM, implementado pela CYLO, oferece uma defesa robusta e eficiente contra essa classe de ataque.
Referências
[1]. Logpoint (2025). Windows Shell Link Vulnerability ZDI-CAN-25373: Detecting Hidden Commands.
https://www.logpoint.com/en/blog/windows-shell-link-vulnerability-zdi-can-25373-detecting-hidden-commands/
[2]. Microsoft (2010). Microsoft Security Bulletin MS10-046 – Critical.
https://learn.microsoft.com/en-us/security-updates/securitybulletins/2010/ms10-046
[3]. MITRE ATT&CK. T1204.002 – User Execution: Malicious File.
https://attack.mitre.org/techniques/T1204/002/
[4]. MITRE ATT&CK. T1547 – Boot or Logon Autostart Execution.
https://attack.mitre.org/techniques/T1547/
[5]. CERT.br (NIC.br). Campanhas de phishing e técnicas modernas de disseminação.
https://www.cert.br/docs/
[6]. Palo Alto Networks — Unit 42. LNK-Based Malware Campaigns in the Wild.
https://unit42.paloaltonetworks.com/tag/lnk/
[7]. Mandiant / FireEye. Living off the Land: Fileless Malware Techniques.
https://www.mandiant.com/resources/blog/living-off-the-land
[8]. Documentação YARA (Virustotal / Google). YARA Documentation.
https://yara.readthedocs.io/
[9]. CERT-EU. Abuse of Windows LNK Files in Targeted Attacks.
https://cert.europa.eu/publications/security-advisories/windows-lnk-abuse/
[10]. Malware Analysis Report – LNK Forensics (SANS). Analyzing Malicious LNK Files.
https://www.sans.org/blog/analyzing-malicious-lnk-files/