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Por que os antivírus falham, e o que se pode fazer? 

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Introdução  

Antivírus continuam sendo uma das camadas mais tradicionais de defesa em ambientes computacionais, presentes tanto em sistemas pessoais quanto corporativos. No entanto, sua eficiência tem sido questionada frente à sofisticação crescente dos ataques cibernéticos e à adoção de técnicas que exploram tanto limitações tecnológicas quanto falhas humanas. Este texto apresenta uma análise inicial sobre os principais fatores que contribuem para falhas em soluções antivírus, abordando vulnerabilidades técnicas, comportamentos de risco dos usuários e condições operacionais que limitam sua eficácia. Nosso ponto principal aqui é mostrar que uma empresa ou organização não pode depender apenas de antírus como sua única linha de proteção contra ataques cibernéticos

1. Razões Técnicas para Falhas 

1.1 Ameaças Zero-Day Ataques zero-day exploram vulnerabilidades ainda desconhecidas pelos fornecedores de antivírus. Como os mecanismos baseados em assinatura dependem de uma base de dados previamente conhecida, a detecção dessas ameaças torna-se ineficaz, a menos que o produto utilize heurísticas ou detecção comportamental avançada. 

1.2 Atualizações Atrasadas A eficiência de qualquer antivírus depende fortemente da frequência e da rapidez das atualizações. Sistemas desatualizados representam um vetor crítico de falha, uma vez que novas ameaças surgem diariamente e exigem resposta ágil. 

1.3 Técnicas de Evasão Cibercriminosos empregam diversas técnicas para burlar antivírus, como: 

  • Ofuscação de código. 
  • Criptografia de payloads. 
  • Uso de packers e crypters. 
  • Fileless malware, que reside na memória e evita escrita em disco. Essas técnicas comprometem mecanismos tradicionais de detecção estática. 

1.4 Falsos Negativos e Heurística Limitada A heurística, embora seja uma abordagem mais proativa, também é suscetível a falhas. Malwares sofisticados podem simular comportamento legítimo ou modular suas ações para escapar de padrões detectáveis. Isso leva à ocorrência de falsos negativos, comprometendo a confiabilidade do sistema. 

1.5 Falhas Técnicas Avançadas 

Além das ameaças zero-day e das limitações heurísticas já discutidas, diversos outros vetores técnicos representam desafios significativos à eficácia das soluções antivírus modernas: 

  • Parsing de formatos complexos: Antivírus precisam interpretar diversos formatos (RTF, PDF, DOC, XLS, ZIP), expondo grandes superfícies de ataque. Bugs em parsers (como ponteiros não inicializados ou integer overflows) são comuns. 
  • Expansão de arquivos compactados (ZIP bombs): Arquivos maliciosamente comprimidos, como o clássico 42.zip, podem causar negação de serviço ao sobrecarregar o motor de descompressão do AV. 
  • Fileless malware e execução em memória: Malwares modernos frequentemente utilizam técnicas como PowerShell injectors e DLLs refletidas, evitando gravação em disco e dificultando a detecção baseada em arquivos. 
  • Evasão por anti-debugging e anti-sandboxing: Alguns malwares detectam se estão sendo executados em ambientes de análise e alteram seu comportamento para evitar detecção (ex: análise dinâmica por sandbox). 
  • Assinaturas frágeis ou genéricas: Assinaturas baseadas em hash ou padrões simples podem ser facilmente contornadas com pequenas modificações no binário, como padding, metadados alterados ou recompilação com packing. 

2. Fatores Humanos que Comprometem a Eficácia do Antivírus 

2.1 Configuração Incorreta Muitos problemas decorrem de erros de configuração, como exceções mal definidas, desativação de módulos de proteção ou falta de aplicação de políticas de segurança padronizadas. 

2.2 Engenharia Social Mesmo com antivírus ativo, técnicas de phishing e outras formas de engenharia social podem induzir o usuário a executar arquivos maliciosos ou fornecer credenciais, driblando as defesas automatizadas. 

2.3 Falta de Conscientização Ignorar alertas de segurança, permitir execução de arquivos suspeitos ou mesmo desativar o antivírus temporariamente por “conveniência” são comportamentos comuns que abrem portas para ameaças. 

3. Fatores Operacionais e de Contexto 

3.1 Ataques Direcionados (APT) Antivírus tradicionais muitas vezes falham ao lidar com malwares desenvolvidos sob medida para uma vítima específica, como ocorre em campanhas de ameaças persistentes avançadas (APT). 

3.2 Recursos Limitados dos Dispositivos Equipamentos com restrições de CPU, memória ou armazenamento podem operar com proteções reduzidas ou lentas, o que afeta diretamente a capacidade de detecção em tempo real. 

3.3 Foco Reativo Boa parte das soluções antivírus ainda age de maneira reativa: respondem após a descoberta de uma ameaça. Esse modelo é limitado frente à dinâmica dos ataques modernos, que exigem detecção antecipada e correlação de eventos. 

4. Casos Reais de Falhas em Antivírus 

Alguns exemplos históricos demonstram como falhas em soluções antivírus podem gerar sérios riscos à segurança da informação: 

  • CVE-2016-2208 – Uma vulnerabilidade crítica no motor antivírus da Symantec permitia execução remota de código ao processar arquivos compactados manipulados. Essa falha evidenciou como componentes de parsing em AVs podem ser explorados. Link: https://nvd.nist.gov/vuln/detail/CVE-2016-2208 
  • CVE-2020-11261 – Uma falha no Avast permitia a elevação de privilégio devido a validação insuficiente em drivers de kernel. Link: https://nvd.nist.gov/vuln/detail/CVE-2020-11261 
  • CVE-2021-21975 – Falha no VMware vRealize mostra como sistemas integrados com AVs também podem ser vetores de ataque. Link: https://nvd.nist.gov/vuln/detail/CVE-2021-21975 
  • Falha no Windows Defender (2017) – Vulnerabilidade permitia execução remota de código apenas com o escaneamento de arquivos manipulados. Link: https://learn.microsoft.com/pt-br/security-updates/securityadvisories/2017/4022344 
  • CVE-2024-20505 – Out-of-bounds read no parser de PDF do ClamAV permitia DoS remoto. Link: https://nvd.nist.gov/vuln/detail/CVE-2024-20505 
  • CVE-2024-20506 – Vulnerabilidade no daemon ClamD permitia corrupção de arquivos via manipulação de symlink em logs. Link: https://nvd.nist.gov/vuln/detail/CVE-2024-20506 
  • CVE-2024-9484 – Null-pointer dereference no antivírus AVG/Avast para macOS provocava falhas de proteção no endpoint. Link: https://vuldb.com/?id.279226 
  • CVE-2025-20183 – Falha no Cisco Secure Web Appliance permitia que cabeçalhos HTTP manipulados burlassem o antivírus embutido e facilitassem o download de malware. Link: https://nvd.nist.gov/vuln/detail/CVE-2025-20183 

5. Práticas Recomendadas para Mitigar Falhas 

Nenhuma organização deve depender exclusivamente de uma solução antivírus para proteger seus endpoints. O conceito moderno de defesa cibernética exige uma abordagem em camadas, com uso integrado de tecnologias mais avançadas: 

  • Manter o antivírus atualizado: Ainda que limitado, o antivírus oferece uma camada básica de proteção. 
  • Implementar soluções EDR (Endpoint Detection and Response): Permite visibilidade em tempo real sobre comportamentos nos endpoints, com capacidade de resposta automatizada para incidentes suspeitos. 
  • Adotar XDR (Extended Detection and Response): Integra diferentes vetores (endpoint, rede, e-mail, identidade) em uma visão consolidada, permitindo detecção e resposta correlacionada entre diversas superfícies de ataque. 
  • Utilizar plataformas SOAR (Security Orchestration, Automation and Response): Automatizam playbooks de resposta a incidentes, reduzindo tempo de reação e permitindo padronização de processos. 
  • Aplicar soluções com IA/ML como o Palo Alto Cortex XSIAM: O Cortex XSIAM é uma plataforma de XDR unificada com automação baseada em inteligência artificial que coleta, normaliza e correlaciona eventos em tempo real, elevando a eficiência da detecção e da resposta cibernética. Sua arquitetura baseada em dados e IA acelera a investigação de ameaças complexas e reduz o tempo de exposição a riscos. 
  • Capacitar continuamente os usuários: Investir em treinamentos de conscientização para reduzir os riscos associados a engenharia social e erro humano. 
  • Monitoramento Contínuo com SIEM: Ferramentas de SIEM centralizam logs e alertas de diferentes fontes, facilitando a investigação de anomalias e contribuindo para conformidade e auditoria. 

6. Considerações Finais Soluções antivírus ainda desempenham papel importante, mas não podem ser vistas como barreira única contra ameaças. A segurança deve ser tratada como um sistema em camadas, que inclui tecnologia, processos e, principalmente, comportamento humano. Reconhecer as limitações das ferramentas é o primeiro passo para construir defesas mais eficazes em um cenário cibernético cada vez mais complexo. 

7. Referências Bibliográficas 

Pascal Maniriho, Abdun Naser Mahmood, Mohammad Jabed Morshed Chowdhury. A systematic literature review on Windows malware detection: Techniques, research issues, and future directions. Journal of Systems and Software. Volume 209, March 2024, 111921. https://doi.org/10.1016/j.jss.2023.111921 

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